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8withpleasure

Partilhar a paixão que tenho pela Gastronomia. Através de experiências, dicas, opiniões, histórias e curiosidades...

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30.Jul.17

A Ousadia de Leopold - by Chef Tiago Feio

Um restaurante ainda fora dos highlights das redes sociais e das revistas da área, que pauta pelo anonimato e pela opção de se deixarem meio escondidos ali ao lado do Castelo de São Jorge onde de uma forma muito intimista e despretensiosa, talvez até familiar, sentam à sua mesa 22 pessoas e "oferecem" uma experiencia gastronómica que não só surpreende como é rara...

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É sobre esta mise en place que é servido todo o menu, composto por 10 momentos. A pequena tabua vai servindo de base para os 3 primeiros pratos, os quais podemos chamar de entradas.

Tudo começa com uma humilde salada de tomate, onde a intenção é mesmo saborear toda a sua riqueza de sabores sem qualquer adição de temperos, o tempero esse é dado por uns ramos de salicórnia. O mesmo se passa com o mix de cenouras cozinhadas ao vapor e posteriormente assadas e servidas sob uma base de coco que confere uma combinação de sabores interessante, sendo que a própria casca das cenouras acrescenta um toque rústico importante.

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 tomate

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cenoura, coco

 

Para finalizar estes 3 primeiros pratos introdutórios que se vão acompanhando de um belo espumante da Bairrada, chega-nos  à mesa um cesto de pão de mistura, com uma manteiga de ovelha e uma bowl de algas do mar e alcaparras que já à mesa são envolvidas com mostarda dijon. Um momento peculiar em que é o próprio cliente que finaliza a confeção do prato. Há aqui uma junção de sabores a mar, frescura e acidez que juntamente com a manteiga de ovelha de consistência muito fluffy e sabor delicado fazem deste um prato com maior criatividade e identidade própria. Talvez a única coisa a melhorar seria a quantidade da bowl de algas que fica um pouco aquém do pão que é servido...

Importa referir que optámos pelo wine pairing, que por si só conseguiu também ser uma experiência "à parte" e não só complementar, como acrescentar valor a uma experiência que se tornou duplamente satisfatória. A seleção e serviço de vinhos fica a cargo do Olavo Silva Rosa, que faz uma seleção de vinhos biológicos de pequenas produções mas que se revelam gigantes na boca!

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pão, manteiga de ovelha, algas

 

A introdução está feita, o ambiente está criado e já nos sentimos um pouco mais à vontade. Foi à mesa do chefe que disfrutámos desta experiência, uma mesa comunitária que pode acomodar até 8 pessoas e que tem o privilégio de ter o chefe a apresentar cada um dos pratos do menu. À primeira impressão pode parecer estranho sentarmo-nos à mesa com estranhos, mas na realidade existe espaço tanto para a privacidade como para a partilha social, qualquer que seja a predisposição de quem se senta.

É com um novo vinho que se acompanha o prato seguinte, um branco de Leiria, terra pouco conhecida pela vindima, mas que se revelou mais uma bela surpresa e um belo acompanhante para aquele que foi para mim um dos pratos vencedor desta degustação. 

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gema de ovo, cebola, beldroegas 

 

Não só por me ter remetido de forma automática à minha infância (quando comia gemadas), mas por todo o jogo de sabores, texturas e uma combinação de ingredientes perfeita. O caldo de cebola caramelizada tem a doçura e a acidez, o ovo sente-se doce e cremoso, com uma cozedura soft, suficiente para que a gema não se dissolva por complet, o trigo sarraceno dá-lhe o crocante e tostado. O conjunto fica completo com as beldroegas, a cor verde e o elemento fresco herbáceo que faltava.

Este segundo momento introdutório finaliza com um encharéu dos açores, apenas marinado em saké. Um momento de maior frescura e simplicidade em que o peixe de sabor leve e textura chewy, salpicado com umas folhas de manjericão deixa-nos de palato limpo e fresco.

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 encharéu

 

Seguiu-se a carne e para acompanhar nada melhor que um bom vinho branco!!, será? sim, aqui procura-se ir contra a regra, a carne vem primeiro que o peixe e ao invés de se acompanhar de um tinto, é o branco (Matías i Torres, de La Palma, Canárias) que toma o seu lugar, pois o tinto (Humus, de Óbidos) virá com o peixe. 

O novilho dos açores é cozinhado em sous vide que não é mais do que confecionar sob vácuo, a carne neste caso é colocada dentro de um plástico selado a vácuo, que é submerso em água e deixado a cozinhar durante algumas horas. O resultado final é uma carne suculenta, tenra, cheia de sabor e sem necessidade de grandes temperos, é acompanhada de um molho de alho sob o qual caem umas salicórnias. Uma homenagem ao bom novilho dos Açores e que nos deixa a querer só mais um pedacinho...

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novilho

 

O segundo principal veio do mar, o chefe Tiago Feio voltou a vir à mesa para apresentar mais um dos seus ilustres, desta vez o Peixe Galo, cozido também em vacuo. O peixe revela-se muito suave e cremoso, a pele é braseada com um maçarico o que lhe confere uma uma textura crocante, a acrescentar há ainda umas ovas do próprio peixe. Um prato muito agadável e desafiante ao palato.

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peixe-galo

 

Entramos agora na fase final, a sobremesa é composta por 3 momentos distintos que são acompanhados de um Carcavelos que fecha o wine pairing de forma gloriosa, com todos os seus aromas a marmelo, revelando-se doce e amanteigado na boca.

Começando pela cereja, servida sob a forma de um creme, polvilhado com "terra" de buletos (cogumelos) e beterraba e ainda umas folhas de manjericão. É saborosa, mas não surpreende muito!

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cerejas, buletos, beterraba

 

E eis que nos chega o momento mais surpreendente de toda esta degustação, uma banana da madeira! Cozinhada até ficar molinha e ainda mais adocicada, sob a qual é colocada uma bolacha de especiarias (erva doce, cravinho, curcuma, cominhos e canela). Aqui já encontrei uma combinação de ingredientes mais surpreendente que origina sabores mais fora do normal e aos quais estamos menos habituados.

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 banana, especiarias

 

É exatamente em busca destes sabores mais surpreendentes, preparados e apresentados de forma inovadora, que resultam da criatividade que existe na cozinha e na mente dos Chefs que nos predispomos a pagar um pouco mais e a viver uma experiência gastronómica que se prolonga durante 2 horas à mesa, às vezes até mais.

Aproveito assim o fecho da refeição para também concluir aquilo que achei do Leopold. Seguindo um pouco a linha do que disse no inicio deste texto, penso que se percebe bem o conceito e que estamos perante um restaurante que de uma forma destemida, tem uma abordagem completaemetnte diferente.

A experiência é sem duvida alguma enriquecedora e merecedora de ser recomendada, no entanto não posso deixar de notar que talvez um maior cuidado no empratamento ou apresentação de alguns pratos (novilho e peixe-galo) pudesse ser benéfico.

Vê-se claramente que há a intenção de utilizar poucos ingredientes na cozinha e de deixar que seja apenas um o elemento principal de cada prato. Talvez porque estamos a falar de um restaurante com apenas 4 pessoas responsáveis por garantir todo serviço (2 na cozinha e 2 na sala) que claramente tem que ser ajustado a essa realidade.

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 caixa (uvas e rainhas cláudias)

 

E é com uma caixa surpresa que terminamos. Mais uma vez a simplicidade de apresentar produtos únicos, de muita qualidade, aos quais infelizmente vamos tendo cada vez menos acesso no dia-a-dia.

A refeição não poderia ficar finalizada sem o café, à boa maneira portuguesa. Na casa Leopold como me apraz mais chamar-lhe, é preparado ao momento e é café de filtro, mais um momento peculiar e engraçado de um restaurante que abre as suas portas sem preconceitos.

De cozinha aberta, sem grandes decorações e adereços somos levados ao sabor da comida e dos vinhos numa atmosfera muito simpática e envolvente Há um claro saber receber e uma vontade de satisfazer os convidados e deixar neles a memória de um jantar...

 

PREÇO MÉDIO REFEIÇÃO: 77€ (Menu - 42 + Wine Pairng - 35)

Pátio Dom Fradique, 12, 1100-261 Lisboa

21 886 16 97

https://www.facebook.com/restaurante.leopold/

 

17.Jul.17

ALMA - Uma Noite Mágica de Sabores Bem Portugueses

Um jantar de 5 estrelas, não sei se alguma delas será Michelin e sinceramente tampoco me importa. A verdade é que hoje em dia cada vez mais ouvimos falar nos restaurantes com estrela michelin e na importância e visibilidade que isso dá. Eu sinceramente prefiro esquecer tudo isso e olhar para o restaurante como mais um restaurante com um conceito diferenciador e que poderá ou não ser do meu agrado...

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1º Crocante de Tapioca e Gaspacho

 

No Alma senti que tudo estava em perfeita harmonia, como se de uma composição de Tom Jobim se tratasse. O espaço, a decoração, a música ambiente, o serviço e a comida deixaram-me muito impressionado.

Logo à chegada fomos recebidos de uma forma muito simpática pelo escanção Gonçalo Patraquim, que de uma forma entusiasta nos acompanhou até à mesa e nos deu as boas vindas.

De seguida, foi nos então apresentada a carta de vinhos. Havia a duvida se optávamos pelo wine pairing ou por uma garrafa de vinho, mas o Gonçalo conseguiu ser bastante elucidativo e de uma forma muito simples explicou-nos um pouco como ele tinha feito o wine pairing e quais as melhores opções de vinho à garrafa para o menu Caminhos. A escolha acabou por recair sob um BTT Luís Pato que se revelou um excelente acompanhante durante toda a refeição.IMG_20170625_221435_01.jpg

 2º Salmão Marinado e Pimento Vermelho Crocante

 

O Menu Caminhos, composto por - Lula, grão, tomate confit, acelgas e caldo de lula / Presa Ibérica na brasa, chutney de banana, picle de cebola e maracujá, jus de melaço e especiarias / Morango, framboesa, merengue e sorvete de coco. Acaba por ser bem mais extenso, com 5 "mini" entradas e uma pré sobremesa, no total são 10 momentos (5 entrantes, 2 principais, 2 sobremesas e mignardises para acompanhar o café).

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 3º Gamba Marinada

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 4º Vieira com tira de pepino e crocante de quinoa

 

Os primeiros pratos são todos eles muito originais. De sabores bastante fortes e concentrados, sentimos claramente que não só o produto é de primeiríssima qualidade, como o cuidado com a apresentação e a forma como são confecionados nos convence que estamos perante uma cozinha de eleição. Destaco aqui o pimento vermelho crocante, um sabor incrível que nos remete de forma automática para o fumado do churrasco a carvão. A tapioca é muito interessante devido à textura e ao crocante. Talvez a vieira tenha sido o único que não me convenceu, estava à espera de mais sabor. Os restantes não sendo surpreendentes, são obviamente pequenas maravilhas, com toda a frescura e intensidade de sabores que deixam na boca...

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5º Couvert 

Por fim, terminamos esta primeira parte como normalmente se começaria em qualquer outro restaurante, o couvert composto de pão, manteiga e azeite. Um detalhe que achei muito interessante e que claramente serve para marcar a Portugalidade do restaurante. Com a tão típica broa de milho, o pão de mafra, a manteiga e uma seleção de azeite virgem do próprio chef, fechamos o primeiro ciclo da experiência e preparamo-nos para os tão aguardados principais.

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6º Lula

 

Se há coisa que tenho bem presente são as lembranças dos verões que passei no Algarve durante a minha infância e juventude. E esta pequena maravilha conseguiu remeter-me de forma automática para todos esses verões onde o peixe reinava muitas vezes à mesa. Um aroma intenso a mar, um caldo rico que nele tem envolvido ingredientes tão simples como o tomate e o grão e que aqui conseguem criar um prato onde a lula é a rainha dos mares! 5 estrelas!

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 7º Presa Ibérica

 

E quando chega o numero 7, já sabemos que estamos perante algo especial, ou não fosse este o numero ostentado por nomes como C. Ronaldo, Figo, David Beckham, Cantona, entre outros. Neste caso é uma Presa Ibérica que foi sem duvida das melhores carnes que comi nos últimos anos. E ao seu lado temos o chutney de manga que podia ser o numero 10 e o picle de cebola e maracujá o numero 9 que com a sua acidez vai cortando o sabor mais intenso da carne. Não sei, mas ou muito me engano ou é um dos melhores pratos que já comi. E mais uma vez não temos aqui nada de anormal ou fora do comum. Tudo parece simples, mas a verdade é que com 3 ou 4 ingredientes comuns, conseguimos ter à nossa mesa pratos com alma e coração bem portugueses.

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8º Pré-Sobremesa - Gelado de Manjericão

 

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9º Morango, framboesa, merengue e sorvete de coco

 

E por fim chegamos às sobremesas, cheias de frescura, doçura e acidez, vestem a capa de finalizadores de uma experiência gastronómica única e invulgar. Ou não fosse essa a expectativa de qualquer um que visita o Restaurante Alma. As expectativas não foram defraudadas, o restaurante cumpriu a toda a escala, o serviço prestado por todos os empregados foi muito bom. Sempre prestáveis, atentos, explicação ao detalhe de todos os pratos e uma disponibilidade imediata para responder a qualquer duvida ou curiosidade.

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10º Mignardises

 

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É com um simples e bem tirado expresso que se dá o apito final, no entanto ainda houve tempo espaço para um tempo de compensação pautado por umas mignardises em que o bombom de "pastel de nata" explosivo sai vencedor.

Como nota final gostaria de deixar uma palavra de apreço especial ao sommelier Gonçalo Patraquim pelo profissionalismo, entusiasmo e alegria patente no serviço prestado. É muito bom sentir que as pessoas têm alegria e paixão no que fazem e quando conseguem transmitir isso para o cliente, melhor ainda.

E eu mais do que qualquer outra pessoa talvez seja sensível a isso, pois também trabalho na área da restauração e custa-me às vezes ver pessoas com falta de alegria e dedicação no trabalho.

Não só ao Gonçalo como a toda a equipa do Alma, incluindo obviamente o Chef Henrrique Sá Pessoa, fico grato por ter podido experienciar o vosso restaurante e por obviamente saber que tenho em Lisboa mais um restaurante capaz de criar noites mágicas à mesa.

 

PREÇO MÉDIO REFEIÇÃO: 120€

Rua Anchieta, 15, 1200-224 Lisboa

21 347 06 50

http://www.almalisboa.pt/pt

https://www.facebook.com/pages/Alma-Chef-Henrique

   

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